O Senhor dos Sonhos e Os Perpétuos

Embora não seja exatamente meu preferido (Chega bem perto, mas não é), Sandman me ensinou a gostar de quadrinhos. Antes de conhecer O Senhor dos Sonhos e seus irmãos, nunca imaginaria que eles poderiam ter histórias tão complexas e fascinantes quanto as que eu lia nos livros.

Por nutrir tanto carinho pela obra, não acredito ser capaz de lhe fazer justiça, mas acho que essa frase a define bem:

"Pediram para Neil Gaiman ressucitar um herói de segunda divisão. E ele criou uma nova mitologia" (Revista Flashback)

Para mim, o mais cativante em Sandman - e que o torna 'uma nova mitologia' - são os Perpétuos, um grupo de entidades que personificam vários aspectos do universo comuns a todos os seres vivos: Sonho, Morte, Delírio, Desejo, Desespero, Destino e Destruição.

"Há muito é dito que os Perpétuos são uma família de sete entes conceituais, descritos como 'idéias envoltas em algo semelhante à carne'. Eles existem porque seres vivos inteligentes sabem que eles existem. Diversas religiões politeístas da Terra os consideravam como deuses.Na Grécia antiga, por exemplo, viam Sonho como Morpheus, o Deus do Sono. Mas os Perpétuos não são deuses, pois estes deixarão de existir quando seus adoradores e aqueles que lembramdeles morrerem, enquanto os sete irmãos sobreviverão. Aliás, Perpétuos é uma denominação incorreta,porque mesmo todos tendo se originarado há muito tempo,seis da família serão removidos deste planodimensional pelo sétimo, a Morte."


Como Gaiman apresenta cada Perpétuo, em Estação das Brumas:



Desejo tem estatura mediana. É improvável que algum dia se reproduza um retrato que lhe faça justiça, porque vê-la (ou vê-lo) é amá-la (ou amá-lo) de forma apaixonada e dolorosa, acima de todas as coisas.

Desejo exala um perfume quase subliminar de pêssegos maduros e projeta duas sombras: uma negra, de contornos nítidos, e a outra translúcida e indistinta como névoa sobre o asfalto fervente.

Desejo sorri em lampejos breves, como a luz do sol resplandecendo no gume de uma faca. E há muito mais do gume de uma faca em Desejo.

Jamais a(o) possuída(o), sempre o possuidor(a), com a pele pálida como a fumaça e olhos fulvos e aguçados como vinho amarelo. Desejo é tudo o que você sempre quis. Seja você quem for. O que for.

Tudo.



Desespero, irmã gêmea de Desejo, é rainha de seus próprios domínios lúgubres. Diz-se que neles há uma infinidade de janelas minúsculas pendendo no vazio. Cada uma revela uma cena diferente e, em nosso mundo, manifestam-se como espelhos. Algumas vezes, você olhará para um espelho e perceberá os olhos de Desespero sobre você. E sentirá seu coração sendo fisgado por seu anzol certeiro.

Há muitos e muitos anos, uma seita fundada onde hoje é o Alfeganistão proclamou Desespero como uma deusa e determinou todos os cômodos vazios como seu lugar sagrado. Tal seita, cujos membros se denominavam "Os Não Perdoados", persistiu por dois anos, até que seu último seguidor enfim cometeu suicídio. Ele sobreviveu quase sete meses a mais que os outros membros.

Desespero fala pouco e é paciente.




Destino é o mais velho dos Perpétuos. No Princípio era o Verbo, e este foi traçado à mão na primeira página de seu livro antes mesmo de ser pronunciado.

Destino é também o mais alto dos Perpétuos, aos olhos mortais.

Alguns crêem que Destino seja cego, enquanto outros, talvez com mais sabedoria, afirmam que ele viajou além da cegueira e, na realidade, é incapaz de fazer outra coisa a não ser enxergar; que ele enxerga os finos traçados desenhados pelas galáxias enquanto espiralam-se pelo vácuo, que observa os intricados padrões construídos pelos seres vivos durante sua jornada através do tempo.

Destino recende a poeira e bibliotecas à noite.

Não deixa pegadas.

Não possui sombras.




Delírio é a mais jovem dos Perpétuos.

Ela cheira a suor, vinho azedo, finais de noite e couro gasto.

Seu reino é próximo e pode ser visitado. Contudo, as mentes humanas não foram feitas para compreender seu domínio, e os poucos que fizeram essa viagem foram incapazes de relatar mais que insignificantes fragmentos.

Coleridge*, o poeta, afirmou conhecê-la na intimidade, mas o sujeito era um mentiroso inveterado. Nisso, como em tantas outras coisas, é melhor duvidar de sua palavra.

Sua aparência é a mais variável de todos os Perpétuos, que são no máximo idéias envoltas por um simulacro de carne. Sua sombra, tangível como veludo gasto, possui forma e contornos que não tem relação alguma com os corpos que utiliza.

Alguns dizem que a tragédia de Delírio é saber que, embora mais velha que todos os sóis e todos os deuses, será eternamente a mais jovem dos Perpétuos, que não calculam o tempo da mesma forma que nós nem enxergam o mundo com olhos mortais.

Outros negam tal fato e afirmam que não há nada de trágico em Delírio, mas esses falam sem refletir.

Porque Delírio, um dia, foi de Deleite. E embora isso tenha sido há muito tempo, ainda hoje seus olhos não combinam: um deles é verde-esmeralda, vívido, salpicado por inquietas manchas prateadas; o outro é azul como uma veia.

Quem save o que Delírio enxerga com seus olhos desiguais?



Sonho dos Perpétuos... Ah, este é um enigma.

Neste aspecto (e dos Perpétuos percebemos não mais que aspectos, como enxergamos o cintilar da luz numa faceta minúscula de uma pedra preciosa imensa e lapidada de forma impecável), ele é magérrimo e sua pele tem a mesma cor da neve que cai.

Sonho acumula nomes para si da mesma forma que outros fazem amigos, mas são os poucos os que ele considera amigos.

Se há alguém de quem é mais próximo, é de sua irmã mais velha, que vê apenas raramente.

Há muito tempo, eles escutou num sonho que a cada século Morte assume um corpo mortal por um dia, pra compreender melhor as vidas que ceifa e provar o sabor amargo da mortalidade: este é o preço por ser a divisora que separa os vivos de tudo o que lhes antecedeu e tudo o que virá depois deles.

Sonho pensa muito nessa história, mas nunca perguntou a verdade a sua irmã. Talvez tema receber uma resposta.

De todos os Perpétuos, com exceção de Destino, talvez, é o mais consciente de suas responsabilidades e o mais meticuloso em sua execução.

Sonho projeta uma sombra humana quando isso lhe convém.











E há Morte.













Fonte: Sonhar.net ; Estação das Brumas

3 comentários:

PurpleFoot disse...

adorei as letras coloridas e em degradê da Delírio *.*
e cosplay de Morte, aí vou eu \o.

? disse...

Posta fotos de você de morte aqui ^-^

PurpleFoot disse...

boa ^^
como vou fazer a tatuagem da morte e passar pó de arroz?

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