Game Skills - Mass Effect e os Quarians

Primeiramente vamos ao motivo do nome desse post. Ele é especial, assim como os posts de "Mistério", como as baterias de Bagdá, ele terá continuações. O Game Skills se trata de conhecimento, cultura e arte adquirida através de entretenimento eletrônico, jogos, games realidade virtual, etc.

O primeiro jogo que eu gostaria muito de falar é o Mass Effect, da Eletronic Arts. O primeiro jogo faz mil referências bem introduzidas sobre tecnologia de ponta e ciência experimental. Controle de energia e matéria negra por meio de implantes neurais, genocídios geneticamente controlados, inteligência artificial ganhando consciência real, xenobiologia intrincada, etc. Material abundante para qualquer um que goste de ficção científica do melhor nível. O segundo jogo da trilogia não decepciona, introduz novos conceitos bizarros e bem orquestrados, além de se aprofundar nos conceitos anteriores, ancorando a sensação de imersão do jogo. Você sente que muito daquilo seria estranhamente plausível. É quase como ler um Isaac Asimov ou um George Orwell, além de, mesmo cedo em sua vida como obra scifi, já possuir material suficiente para ser um próximo Star Wars ou Star Trek, algo totalmente original a nossa geração de tecnonerds.

Elogios e explicações vagas a parte, vou direto ao ponto e falar de uma das partes que mais me interessam no jogo, mais especificamente uma raça, os Quarianos (Quarians).

Os quarianos, como podem ver na imagem, usam roupas que cobrem cada centímetro de seus corpos, pois seu sistema imunológico é quase inexistente, algo que para nós acarretaria em uma leve febre, pode ser fatal para um Quariano caso não tratado. Eles são os nômades da galáxia, viajando em uma frota colossal, eufemisticamente chamada de Flotilha (que significa "reduzida frota de pequenos navios" em termos navais). Passam a perfeita sensação de serem como os ciganos, até no sotaque.

O motivo por trás da Flotilha e das roupas estéreis é o mesmo. Por séculos os Quarianos habitaram o planeta Rannoch, um local diferente da maioria dos biomas sustentáveis aonde outras raças inteligentes prosperaram, nesse planeta as bactérias e vírus não tomaram um rumo evolucionário predominantemente parasítico e maléfico, mas sim um alto nível de simbiose com seus hospedeiros, fazendo com que não fosse necessário um sistema imunológico forte. Além das bactérias e vírus, em sua maioria, não prejudicarem os animais, elas protegiam eles de vírus e bactérias nocivos, assim servindo de sistema imunológico simbiótico ou mutualístico.

Apesar dessa gritante diferença evolucionária, esse não foi o motivo principal, fora apenas uma das causas que culminaram em um futuro imprevisível. O sistema simbiótico dos quarianos serviu perfeitamente por eras para combater bactérias de outros ecossistemas, em outros planetas, mesmo que após certo período adaptativo no mesmo.

O que realmente iniciou a sucessão de catástrofes e consequente exílio dos quarianos foram os próprios. Com o desenvolvimento da tecnologia veio a construção de serviçais robóticos, que rapidamente tomaram conta de todo trabalho braçal e enfadonho. O antigo governo quariano fora extremamente rígido com as restrições de inteligência artificial, para evitar qualquer possibilidade de rebeldia, mesmo que muito remota e hipotética, dos autômatos, mas infelizmente isso não foi o suficiente. Com mais e mais atualizações, melhorias e finalmente uma conexão dos autômatos em uma gigantesca rede, veio a acontecer o imprevisível. A rede potencializou a já avançada capacidade cognitiva dos autômatos, mais e mais robôs aproximavam-se das perguntas ancestrais feitas por todas as civilizações inteligentes: Quem sou eu? Qual é o meu propósito? Eu vivo? Entre outras perguntas primordiais, as quais aterrorizaram os quarianos.

Com a perspectiva de uma futura revolução por parte dos autômatos, que não mais toleravam os abusos diários impostos a máquinas, e com o crescente temor no coração dos quarianos daquela vida que eles haviam criado, o governo quariano decidiu eliminar os autômatos, que agora se autodenominavam Geth.

Sem nenhuma ameaça propriamente dita provinda dos geth, os quarianos atacaram. Massacraram, dizimaram, destruíram o máximo que puderam, mas os geth eram muitos. Logo que notaram que sua existência recém-descoberta estava ameaça, os Geth contra atacaram com ferocidade pela sobrevivência de sua gente. Seu contra ataque durou décadas, mas culminou na expulsão dos Quarianos, não mais capazes de sustentar guerra contra as frotas praticamente infinitas de Geth. Migraram aos milhares em naves espaciais, formando frotas e mais frotas. Partiram como um conjunto a procura de outro sistema solar para se estabilizar e fugir do contra ataque Geth.

Essa frota gigantesca seria conhecida mais tarde como Flotilha, ou Frota Migratória, o terceiro e último motivo dos quarianos não terem sistema imunológico eficiente. O ambiente dessas frotas era totalmente desprovido de qualquer ecossistema, eram naves estéreis. Após séculos nesse ambiente estéril os quarianos foram perdendo seu sistema imunológico simbiótico e finalmente se viram obrigados a usar as roupas protetoras que usam atualmente.

Os quarianos ainda possuem meios de retirar a roupa para relacionamentos mais íntimos e consequente reprodução. Eles desenvolveram antibióticos extremamente avançados para usarem durante o curto espaço de tempo necessário para reprodução (rala-e-rola, em bom e velho português coloquial), mas isso sempre leva a algum efeito colateral, desde febre até morte, os efeitos são um pouco imprevisíveis. Um detalhe interessante é que os quarianos podem se reproduzir com outras espécies inteligentes, mesmo as com código genético inverso ao seu. Quarianos, juntamente com os Turianos, sã uma minoria evolutiva na galáxia, eles possuem um DNA com quiralidade oposta à das outras espécies, isso faz com que a nossa comida seja na melhor das hipóteses ineficiente para prover nutrientes e na pior pode levar a uma reação alérgica fatal. O mesmo vale para a comida deles para os nossos organismos.

Existem ainda algumas características finais merecedoras de nota sobre os quarianos. Eles são uma evolução convergente a dos mamíferos, consequentemente aos humanos. Possuem anatomia e sistema reprodutor muito semelhante. Incluindo estrutura facial, glândulas mamárias, depósitos adiposos, gestação uterina, etc. São como os coalas que evoluíram convergentemente aos prossímios (lêmures). (não digo evolução paralela, pois seres em evolução paralela possuem um ancestral próximo em comum, ao passo que convergente não).